POLÍTICA

Da Militância à Maturidade Política




Em 2006, eu era uma ativista política no campo do Partido dos Trabalhadores (PT), atuando na administração pública. Minha escolha pelo PT era fundamentalmente ideológica, mas, na juventude, eu carregava uma bagagem de "pré-conceitos". A rigidez do moralismo – a adesão cega às regras e aparências – falava mais alto do que a verdadeira moralidade – o discernimento ético baseado na experiência e na empatia.

Essa imaturidade se manifestou claramente durante o escândalo do Mensalão (que estourou em 2005 e teve grande repercussão em 2006 e anos seguintes). Naquele momento, eu julguei o então presidente Lula com a mesma severidade que a imprensa — em grande parte, de oposição — empregava.

Se eu fosse uma amiga verdadeira de Lula, minha postura teria sido outra. O amigo genuíno não se apressa em julgar; ele oferece o voto de confiança e a presunção de inocência. E se a crítica precisa ser feita, ela se dá no sigilo da relação e com o propósito de ser construtiva, jamais como uma condenação pública. Reconheço que, ao me deixar levar pelo turbilhão da mídia e pela inexperiência, confundi a confiança política (baseada na ideologia e na plataforma de governo) com a lealdade pessoal (baseada no afeto e no caráter).

Minha falha, contudo, revelou uma lição crucial: a política exige discernimento, e não apenas paixão. Ela nos obriga a separar a pessoa (com sua complexidade e falhas) do projeto (com suas vitórias e contradições).

A Continuação: Espiritualidade, Governo e o Mérito do Povo

Hoje, com uma visão mais madura e alicerçada na espiritualidade (e não em uma doutrina religiosa específica), vejo a política sob uma lente diferente.

Acredito que, de alguma forma profunda e misteriosa, a autoridade é delegada. Seja ela para realizar o bem ou o mal, há uma antiga máxima que ecoa: "O povo tem o governante que merece." Esta frase, muitas vezes usada com cinismo, para mim carrega uma responsabilidade coletiva. Não se trata de uma punição divina, mas sim do reflexo do nosso próprio nível de consciência, de nossas escolhas (ativas ou por omissão) e de nosso grau de comprometimento com a ética pública.

E é aqui que ressurge minha fé no Brasil. O povo brasileiro é, em sua essência, um povo bom, sensível e trabalhador, que carrega em sua história a luta por justiça social e a esperança de um futuro mais digno. Se o governante é um reflexo do seu povo, o retorno de Lula ao poder sugere que, no âmago da nação, prevalece o desejo por uma governança pautada na sensibilidade social e na bondade, focada na inclusão, no combate à fome e na defesa dos mais vulneráveis.

Essa sensibilidade e essa bondade, que eu vi serem questionadas pela rigidez de meu antigo moralismo, são, afinal, o cerne da moralidade que importa: aquela que se traduz em políticas públicas que buscam o bem-estar da maioria e a redução da desigualdade. A maturidade política é, portanto, a capacidade de sustentar a lealdade ao projeto de justiça, mesmo quando o moralismo fácil tenta nos seduzir ao julgamento rápido e implacável da pessoa.

Minha jornada de ativista a pessoa espiritualizada me ensinou que o verdadeiro teste de caráter não está em condenar o erro alheio, mas em apoiar a luta pelo bem comum com tolerância, crítica construtiva e a convicção de que a ética da política reside na defesa incondicional da dignidade humana.

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