POLÍTICA

 O Paradoxo do Poder: Lula, Il Gattopardo e a Revolução Passiva de Gramsci

A ascensão de Luiz Inácio Lula da Silva, de líder sindical a presidente da República, alinha-se de forma notável à máxima do romance Il Gattopardo (O Leopardo) escrito por Giuseppe Tomasi di Lampedusa, um autor italiano: "Se queremos que tudo permaneça como está, é preciso que tudo mude." Essa coincidência é o cerne da análise, à luz do conceito gramsciano de Revolução Passiva.

A trajetória de Lula e do PT foi um triunfo da Guerra de Posição travada na Sociedade Civil. Foi um processo longo de construção de uma contra-hegemonia onde Lula, como intelectual orgânico, deu consciência política e organização à base (classes subalternas). A vitória eleitoral de 2002 marcou a conquista da Sociedade Política (o Estado), representando a "grande mudança" no cenário político brasileiro.

Contudo, para governar, a máxima do Gattopardo se impôs. A elite brasileira, tal como a aristocracia siciliana, aceitou o novo regime para garantir a sobrevivência de sua ordem estrutural. A ameaça de uma mudança radical foi neutralizada através do mecanismo da Revolução Passiva e do Transformismo.

O Transformismo manifestou-se nas alianças do PT com partidos de centro e na adoção de políticas econômicas ortodoxas, como a manutenção do superávit primário e a nomeação de figuras do mercado financeiro (ex: Henrique Meirelles) para postos-chave. Isso garantiu a estabilidade do capital (o "permanecer como está").

Simultaneamente, o governo promoveu a inclusão social (o "mudar"), como o Bolsa Família e a expansão do crédito, que atuaram como uma reforma passiva: uma mudança social significativa que beneficiava a base, mas sem desmantelar os pilares centrais da hegemonia econômica das elites.

Em suma, a ascensão de Lula foi uma vitória simbólica e social da Guerra de Posição, mas o exercício do poder, mediado pelo Transformismo, resultou em uma Revolução Passiva, onde a mudança política e social foi absorvida pelo sistema para garantir a conservação do poder econômico fundamental.