COMPORTAMENTO

Sou simulação, vivo um simulacro!


Será que somos meros atores sociais num mundo em que a ficção tomou o lugar da realidade?

Oras, se até o poeta é um fingidor...

No mundo das redes sociais, o que nos importa não é sermos felizes, mas sim, perecermos felizes, uma vez que a minha felicidade é mais importante para o outro do que para mim. Um minuto, explicarei:

Oras, neste mundo de artificialidades, a inveja que eu produzirei no meu colega, por si só, já é mais importante do que a minha própria felicidade.
Somos todos objetos do espetáculo chamado cibercultura.  A busca desenfreada por status nos leva a simular o que não existe em nosso cotidiano.

Oras, se tiro algumas fotos de mim com meu skate, isso já suprime a necessidade de muito estudo e treino para me considerar um “atleta do esporte radical”!

Ainda que eu me derreta em lágrimas internas, que a monotonia tome conta do meu ser, se o meu sorriso brilhar numa página de facebook, e mais, se o meu sorriso for mais encantador do que o do meu colega, já ganhei o dia...

Hoje, necessariamente, não preciso ser um homem de negócios bilíngue, basta-me publicar #business

Não preciso nem ser fluente em inglês, será necessário apenas que eu publique em minhas redes algumas palavras e frases neste idioma.


Não importa a qualidade dos livros que li, se estes forem repletos de estórias vampirescas e de bruxos encantadores, como dita a moda... Se assim for, a quantidade faz a diferença e eu terei até coragem de publicar a foto da minha “mini” estante, cheinha dos livros alienantes. Ler “Sertões”, de Euclides da Cunha, que nada! Que enfado!

No simulacro cibernético não importa nem mesmo a qualidade dos amigos, me importa mesmo a  quantidade imensa de seguidores. Pronto, meu número de seguidores já ultrapassou a casa dos milhares e isso é suficiente para que eu me considere uma celebridade de sucesso.

E o coitado do bipolar é quem tem o delírio de grandeza! Eu não, eu sigo é a nova onda da net...

Meu espelho são as telenovelas e séries estrangeiras! Sigo todas as tendências...

Olha aí o problema do simulacro: ser espelho de uma ficção!
Jean Baudrillard, em 1981 escreveu um de seus melhores livros, Simulacros e Simulações.

A simulação já não se restringe a um território, a um ser referencial, a uma substância. É a criação pelos modelos de um real sem origem nem realidade: hiper-real.

“Dissimular é fingir não ter o que se tem. Simular é fingir ter o que não se tem. O primeiro refere-se a uma presença, o segundo a uma ausência. Mas é mais complicado, pois simular não é fingir: "Aquele que finge uma doença pode simplesmente meter-se na cama e fazer crer que está doente. Aquele que simula uma doença determina em si próprio alguns dos respectivos sintomas" (Littré). Logo fingir, ou dissimular, deixam intacto o princípio da realidade: a diferença continua a ser clara, está apenas disfarçada, enquanto que a simulação põe em causa a diferença do “verdadeiro” e do “falso”, do “real” e do “imaginário”. O simulador está ou não doente, se reproduz “verdadeiros” sintomas?” (Jean Baudrillard, Simulacros e Simulações, págs 9 e 10).

Olha aí: acabamos por acreditar no nosso próprio fingimento, por vezes,  até pior, nem sabemos que fingimos.

A alienação tomou conta do mundo artificial que chamamos SEC XXI!!!!
Não precisamos participar de nenhum reality show para vivermos submersos e submetidos aos olhares alheios.

Não preciso estudar anos a fios, me basta um curso de graduação e cara de intelectual, e para isso me é indispensável o uso dos óculos, mesmo sem ter a patologia.

Vivemos em microcenários de fantasia real: é o shopping vendendo o estilo de vida norte-americano, que nós simulamos mesmo desconhecendo a fundo a cultura em questão. E não é só a América fabricando sonhos: Os Spas holísticos nos vendem a falsa sensação de paz interior tão difundida pelos orientais.

Quero andar de bicicleta, mesmo num cenário montanhoso. Oras, os europeus andam assim, não quero ser terceiro mundo.

Quero ser o que não sou, nem ao mesmo sei quem sou: se o que sou não vender a falsa ideia de superioridade!

Brigas! Na minha família não tem; doenças não possuo; minha vida amorosa é um espetáculo, nem mesmo sei o que é solidão. Dinheiro não é meu problema...




Vivo a ficção da telinha, e já nem sei se existo fora dela...

Fomos encaixotados pelas aparências, nem meus próximos me conhecem, não converso com eles, converso com meu computador. Se converso, minha vida tem que ser o que espelha minhas redes sociais e não necessariamente quem sou.

Oras, neste mundo contemporâneo, sou simulação e simulacro!



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